sexta-feira, 29 de abril de 2011

Tratamento

São consideradas indicações do tratamento da hepatite C:
  • VHC RNA detectável, ALT persistentemente elevada e biópsia hepática demonstrando fibrose portal, independente da atividade inflamatória;
  • portadores de cirrose compensada;
  • usuários de álcool ou drogas que tenham condições de aderir ao tratamento;
  • portadores de doença mais leve, transplantados (exceto fígado) e aqueles com manifestações extra-hepáticas do VHC têm indicação discutível de tratamento;
  • no caso de pacientes com transaminases normais, não há consenso, mas o tratamento é recomendável se houver fibrose moderada/severa;
  • portadores de co-infecção HCV-HIV, se a infecção pelo último estiver controlada.
Interferon alfa e ribavirina
   Interferons são glicoproteínas produzidas por células infectadas por vírus. Até agora foram identificados três tipos: o alfa, produzido por linfócitos B e monócitos, o beta, por fibroblastos e o gama, por linfócitos T-helper e NK. O IFN-alfa age diretamente contra o vírus e também aumenta a resposta imune. No entanto, o tratamento apenas com o IFN-alfa apresenta apenas 10-19% de resposta sustentada. Há dois tipos de IFN-alfa, o IFN-alfa-2a e IFN-alfa-2b, aparentemente com eficácias semelhantes.
   A ribavirina é uma análogo sintético da guanosina que tem ação direta contra vírus RNA e DNA, por provável mecanismo de inibição da DNA polimerase vírus-dependente. A ribavirina sozinha, no entanto, não tem qualquer efeito sobre a hepatite C.
   A combinação do interferon-alfa com a ribavirina melhora a resposta virológica sustentada para 38-43%, com correspondente melhora na análise histológica (biópsia) e, possivelmente, nas complicações a longo prazo da hepatite (mas para esse último faltam estudos prospectivos a longo prazo).
Hoje, recomenda-se a terapia combinada na seguinte dosagem: 
  • interferon alfa 3.000.000 unidades por via subcutânea 3 vezes por semana;
  • ribavirina 1.000 mg ao dia por via oral em < 75 kg e 1.200 mg em > 75 kg.
   Infelizmente, os melhores resultados do tratamento são naqueles pacientes com doença que naturalmente seria mais benigna:
  • genótipo do vírus que não seja o 1;
  • baixa viremia (quantidade de vírus no sangue);
  • ausência de fibrose ou cirrose ao início do tratamento.
   Assim, são considerados fatores de menor resposta ao tratamento:
  • genótipo 1;
  • alta viremia (> 800.000 UI/mL);
  • fibrose avançada ou cirrose compensada (a descompensada contra-indica o tratamento);
  • obesidade;
  • raça negra;
  • uso descontinuado ou redução na dose da medicação (sendo o primeiro pior que o segundo);
  • idade avançada;
  • consumo de bebida alcoólica
  • acúmulo de ferro no fígado.
   Mesmo na ausência de fatores benéficos ao tratamento, ele deve ser realizado, mas recomenda-se que dure 48 semanas, ao contrário das normais 24 semanas (nos pacientes acima, não há melhora significativa da resposta dobrando-se o tempo de tratamento, mas nos casos mais severos sim).
Efeitos colaterais do tratamento com interferon alfa e ribavirina na hepatite C
Leucopenia
Neutropenia
Trombocitopenia
Anemia hemolítica
Fadiga
Depressão e outros transtornos psiquiátricos
Sintomas "gripais": febre e dores musculares
Sintomas gastrointestinais: náuseas e perda do apetite
Sintomas respiratórios: tosse e falta de ar
Dificuldade no controle de diabetes
Disfunção na tireóide: hiper ou hipotireoidismo
Sintomas dermatológicos: descamações (rash) e perda de cabelos
Risco aumentado de defeitos de nascença em grávidas
   As pessoas em tratamento deve ser acompanhadas freqüentemente. Exames laboratoriais são necessários a cada 1-2 semanas durante os primeiros 2 meses e depois a cada 4-8 semanas. Dosagens periódicas de hormônios tireoidianos são necessários.
Indivíduos em tratamento, sejam homens ou mulheres, devem manter o uso de método anticoncepcional efetivo durante e até 6 meses após o final do tratamento. Não é contra-indicado o uso de anticoncepcionais orais.
   A dosagem do vírus (por método de PCR - polimerase chain reaction) é realizada classicamente antes, ao final do tratamento e 3 meses após se houve negativação ao final do tratamento, para avaliar a presença de resposta virológica sustentada (ausência persistente do vírus circulante no sangue).
   Há uma tendência a pesquisar o vírus mais precocemente, com 4 ou 12 semanas de tratamento, para verificar se o mesmo está surtindo efeito e, se estiver, possivelmente reduzir o tempo previsto de tratamento. A resposta virológica rápida, com queda de 2 logs (dois pontos na carga viral expressa por logaritmo) entre o início e 12 semanas de tratamento, é chamada de resposta virológica precoce.
São consideradas contra-indicações ao tratamento com interferon e ribavirina:
  • anemia (hemoglobina < 12 g/dL em mulheres e < 13 g/dL em homens);
  • leucopenia (leucócitos < 1.500 / mm3);
  • plaquetopenia (plaquetas < 100.000 / mm3);
  • hepáticas (transaminases normais; cirrose descompensada);
  • cardiovascular (coronariopatia);
  • endocrinológica (diabetes descompensado);
  • doenças autoimunes;
  • neuropsiquiátricas (vertigens; doença psiquiátrica severa);
  • obstétrica (gestação ou incapacidade de anticoncepção).
Interferon peguilado (ou peginterferon)
   Associando a molécula polietilenoglicol ao interferon, conseguiu-se produzir uma nova modalidade de interferon com absorção e eliminação mais lentas. Graças a isso, o interferon peguilado pode ser administrado por via subcutânea apenas uma vez por semana e ainda manter um nível no sangue contínuo, mais adequado que as três administrações semanais do interferon comum - o resultado são melhores resultados e uma discreta menor incidência de efeitos colaterais.
Interferon Peguilado Dose Apresentações Observação
IFN-Peg alfa-2a 180 mcg 180 mcg Mais estável, dose independe do peso
IFN-Peg alfa-2b 1,5 mcg/kg 80, 100 e 120 mcg Instável, deve ser diluído e aplicado logo em seguida
   Em monoterapia (apenas o interferon alfa peguilado), a taxa de resposta virológica sustentada é de 39%, com resultados ainda maiores com a associação peginterferon + ribavirina:
Resposta ao tratamento (%)
Resposta virológica sustentada
IFN 3 MU 3x/sem
IFN 3 MU 3x/sem + ribavirina 1,0-1,2 g/d
PEG IFN 1,5 mcg/kg/sem
PEG IFN 1,5 mcg/kg/sem + ribavirina 800 mg/d
Laboratório
Manns*
Laboratório
Manns*
Geral
19
46
47
39
52
54
Genótipo 1
-
33
33
-
41
42
Genótipos 2-3
-
73
79
-
75
82
Genótipos 4-6
-
-
38
-
-
50
* Manns MP et al and the International Hepatitis Therapy Group: Peginterferon alfa-2b plus ribavirin compared with interferon alfa-2b for initial treatment of chronic hepatitis C: a randomized trial. Lancet 2001; 358:958

Fórmula estrutural do interferon alfa padrão (à esquerda) e peguilado (à direita). Laboratório Roche.
Hoje, considera-se como tratamento mais eficaz a associação do peginterferon com a ribavirina. Nos pacientes com vírus genótipos 2 e 3 , que têm resposta muito melhor, recomenda-se o tratamento por 24 semanas (6 meses). Nos pacientes com VHC genótipo 1, recomenda-se por 48 semanas.
Novas perspectivas
   Outras drogas estão sendo desenvolvidas e testadas para a hepatite C, que atuam no mecanismo de replicação do vírus, ao invés de ter atividade sobre o sistema imune. Atualmente, a medicação mais promissora desse tipo é a chamada VX-950, que tem mostrado melhora nas taxas de resposta virológica na associação com o interferon e a ribavirina, em comparação com o uso das duas drogas em conjunto, ou no seu uso isolado, em comparação com placebo. No entanto, já há descrição de indução de mutação do vírus com o seu uso, o que torna necessário mais estudos antes que seja utilizado clinicamente.
   A utilização crônica (prazo indeterminado) de baixas doses de interferon peguilado em pacientes não respondedores com fibrose avançada, com o objetivo de reduzir a progressão da doença, ainda está em estudo. Até o momento não há dados que permitam este uso fora de protocolos de pesquisa.
Respostas ao tratamento
São consideradas respostas positivas ao tratamento:
  • resposta virológica rápida - PCR negativo na 4a. semana de tratamento;
  • resposta virológica precoce - PCR negativo na 12a. semana de tratamento ( a ausência de RVP, ou a queda na carga viral inferior a 2 logs na 12a. semana indicam uma probabilidade de RVS inferior a 3%);
  • resposta virológica lenta - PCR positivo na 12a. semana, negativo na 24a. semana;
  • resposta virológica ao final do tratamento - PCR negativo ao final do tratamento;
  • resposta virológica sustentada - PCR negativo 24 semanas após o final do tratamento (indica probabilidade de 95% de manter PCR negativo, ALT normal e melhora histológica por tempo indeterminado, o que alguns cnsideram como "cura" da doença).
Manuseio dos efeitos colaterais
  • sintomas "gripais" como hipertermia, dores musculares e articulares e prostração geralmente são tratados com paracetamol ou dipirona; nenhum dos dois, no entanto, é isento de efeitos colaterais - o paracetamol pode ser tóxico ao fígado em doses excessivas e a dipirona pode ter efeitos graves (embora raros) independentes da dose, como reações anafiláticas e anemia aplástica;
  • a hemólise (destruição de hemácias) pela ribavirina ocorre de modo significativo em cerca de 15% dos pacientes; se a queda na hemoglobina for superior a 5 g/dL, pode ser necessário reduzir a dose da medicação; quedas mais severas podem ser tratadas com eritropoetina (epoetina alfa), com melhora de cerca de 2 g/dL em metade dos pacientes, podendo evitar a redução e/ou a suspensão da medicação;
  • a leucopenia (redução nos leucócitos) causada pelo interferon (especialmente pelo peguilado) pode predispor ao surgimento de infecções, embora infecções graves só costumem surgir se a leucopenia for severa (abaixo de 500 neutrófilos/mm3); geralmente, recomenda-se redução na dose do IFN quando a leucopenia chegar a 750 neutrófilos/mm3; o uso de fator estimulador de colônia de granulócitos/macrófagos (como o filgrastim, na dose de 300 mcg/dL SC a cada 7 ou 14 dias) pode reduzir a necessidade de redução na dose do interferon;
  • a plaquetopenia é comum, sendo recomendada a redução na dose do interferon se chegar a uma quantidade inferior a 50.000 plaquetas/mm3, quando há um risco aumentado de sangramentos, que podem ser graves; alguns pacientes apresentam quadro de plaquetopenia rápida e severa por destruição autoimune das mesmas (púrpura trombocitopênica auto-imune), sendo necessária a suspensão do interferon e em alguns casos imunossupressão; não há tratamento específico para aumentar a quantidade de plaquetas.
Situações especiais
  • na hepatite C aguda, embora tal diagnóstico seja incomum pela quase ausência de sintomas (mas possível, especialmente se investigada logo após o contato com sangue contaminado), o tratamento com interferon peguilado em monoterapia pode levar a resposta virológica sustentada em mais de 80% dos pacientes; a maioria dos especialistas recomenda aguardar de 8 a 12 semanas após o contato e, se não houver negativação espontânea, tratar por 24 semanas;
  • ainda não há consenso sobre o tratamento da hepatite C em crianças;
  • nos portadores de insuficiência renal crônica ou em hemodiálise, o tratamento é recomendado sempre que houver atividade inflamatória e fibrose, independente do nível de transaminases; como o tratamento com interferon induz rejeição do transplante renal e a ribavirina está contra-indicada por levar a hemólise severa, recomenda-se o tratamento pré-transplante renal, com interferon convencional em monoterapia, na dose de 3 MU três vezes por semana (após as sessões de hemodiálise) durante 12 meses, independente do genótipo.

Grupos especiais

Crianças
   Crianças infectadas com hepatite C parecem ter evolução mais benigna do que aquelas com hepatite B. Em um estudo com crianças infectadas com hepatite C genótipo 1, 45% curaram espontaneamente. A progressão da doença também parece ser mais lenta do que nos adultos que adquiriram a doença.
Coinfecção HCV-HIV
   A coinfecção é comum. Em um estudo europeu de 3000 portadores de HIV, 33% eram anti-HCV positivos (75% nos usuários de drogas endovenosas). A progressão para a cirrose é muito mais rápida nesses pacientes, chegando a 25% em 15 anos em um estudo.
Coinfecção HBV-HCV
   A coinfecção aumenta a velocidade do desenvolvimento de cirrose e hepatocarcinoma

Historia Natural

 A história natural precisa da hepatite C é difícil de avaliar pela falta de dados prospectivos, dificuldade de definir a data da transmissão e associações com outros fatores que alteram o curso da doença, como co-infecções e uso de álcool.
   A hepatite C aguda é assintomática em 84% dos casos, o que dificulta o diagnóstico. O tempo de incubação (entre o contato com o vírus até o desenvolvimento da hepatite aguda) é de 15 a 60 dias (média de 45 a 55 dias), mas a pessoa já pode transmitir a doença mesmo antes disso. Os sintomas mais comuns são icterícia, fadiga, febre, náusea, vômitos e desconforto em hipocôndrio direito, geralmente 2-12 semanas após a exposição e dura de 2 a 12 semanas. O diagnóstico da fase aguda requer a realização de PCR, uma vez que infecções agudas podem ser soronegativas.

                                                                           

O principal fator que leva à grande importância da hepatite C é a sua alta cronicidade. Apenas 15 a 30% das pessoas infectadas pelo vírus da hepatite C curam espontaneamente, enquanto 70 a 85% ficam com hepatite crônica. Persistindo a viremia, a progressão do dano hepático é de um estágio de atividade ou fibrose a cada 7-10 anos. Aproximadamente 20 a 30% dos portadores de hepatite C crônica desenvolvem cirrose após 10 a 20 anos de infecção.
    Observe que, apesar de ser uma doença que pode levar a um grande número de cirroses e cânceres por estarmos em uma epidemia, a maioria das pessoas que adquire a hepatite C, a maioria das pessoas infectadas não apresentará complicações relacionadas a essa doença durante a sua vida ! Assim, uma das principais questões em estudo na hepatite C é como prever quem desenvolverá complicações da hepatite e quem permanecerá com doença leve ou inativa. Por enquanto, só sabemos que portadores que adquiriram a infecção mais novos, os com elevados níveis de ALT (que indicam doença com maior atividade) e naqueles que já tem um grau moderado de fibrose (cicatrizes) ou progressão na fibrose em biópsias com intervalo de 3 a 5 anos têm maior propensão a evolução para cirrose. A presença de outros fatores, como sexo masculino, hemocromatose, consumo de álcool, co-infecções pelo HBV ou HIV, imunossupressão (após transplante) e, possivelmente, a esteato-hepatite não alcoólica, aceleram a progressão da doença.
   Sempre se soube que alguns indivíduos, sem outros fatores de risco aparentes, como a co-infecção com vírus da hepatite B ou HIV ou uso de álcool, estão mais predispostos a desenvolver cirrose do que outros, mesmo que o vírus seja da mesma genotipagem. Recentemente, foi descrito que um conjunto de 7 genes estaria associado a um risco maior de desenvolvimento de cirrose. A pesquisa destes 7 genes levaria ao cálculo de um índice denominado "CRS" (cirrhosis risk score), que poderia prever que pacientes teriam maior risco de desenvolver cirrose e, portanto, teriam indicação de tratamento mais agressivo. No entanto, ainda faltam estudos para validar este método.
 

sexta-feira, 22 de abril de 2011

DIAGNÓSTICO DO VIRUS

O principal método diagnóstico para a hepatite C continua sendo a sorologia para anti-HCV pelo método ELISA, sendo que a terceira geração deste exame, o ELISA III, tem sensibilidade e especificidades superiores a 95% (com valor preditivo positivo superior a 95%). Após a infecção, o exame torna-se positivo entre 20 e 150 dias (média 50 dias). Pela alta confiança do exame, o uso de sorologia por outro método (RIBA) só deve ser utilizado em suspeitas de ELISA falso positivo (pessoas sem nenhum fator de risco). O resultado falso positivo é mais comum em portadores de doenças autoimunes com auto-anticorpos circulantes, além de indivíduos que tiveram hepatite C aguda, que curaram espontaneamente mas que mantêm a sorologia positiva por várias semanas. Por outro lado, o exame também pode ser falso negativo em pacientes com sistema imunológico comprometido.
Anti-HCV Elisa 3a. geração
Falsos-negativos
Falsos-positivos
Hepatite C aguda
Alcoólatras
Imunodepressão ( transplante, SIDA )
Doenças autoimunes

Populações de baixa prevalência
   O segundo método de escolha é a detecção do RNA do vírus no sangue, que já é encontrado em 7 a 21 dias após a infecção. Há vários métodos, sendo que o PCR qualitativo é o mais sensível (detecta até quantidades mínimas como 50 cópias/mL) e o PCR quantitativo é menos sensível (apenas acima de 1.000 cópias/mL), mas informa uma estimativa da quantidade do vírus circulante. Pelas definições da Organização Mundial de Saúde, pessoas com mais de 800.000 UI/mL (cópias/mL) são consideradas como portadoras de título alto e, as com menos, portadores de título baixo.
   O genótipo é desnecessário para o diagnóstico da infecção, mas é extremamente importante na tomada de decisões quanto ao tratamento. Para os genótipos 2 e 3, por exemplo, a dose da medicação e o tempo de tratamento são menores do que os recomendados para o genótipo 1.
Distribuição dos genótipos do HCV no Brasil
Genótipo
Incidência
1
70%
2
2,5%
3
28%
   A elevação de transaminases não é necessária para o diagnóstico. Até 30% dos pacientes mantém dosagem de ALT normal, mas mesmo assim 50% apresentam à biópsia hepática alterações significativas.
   Como a severidade da doença não pode ser determinada com precisão por métodos menos agressivos, a biópsia continua sendo necessária para avaliar o grau de inflamação e fibrose (formação de cicatrizes). O consenso mundial é de que a biópsia é necessária em todos os pacientes antes do início do tratamento.
Papel da biópsia hepática na hepatite C
Confirma o diagnóstico clínico
Avalia o grau de fibrose e inflamação
Avalia a presença de outras doenças concomitantes
Ajuda a definir a melhor opção terapêutica

sábado, 9 de abril de 2011

FISIOPATOGIA DO VIRUS

 A Hepatite C é causada por um  virus tipo RNA(as informações genética são codificadas em RNA - no hospedeiro, este RNA em forma de fita + é copiado para a forma de fita -,que é utilizado como ''molde''  para a produção de novos virus).Ele é muito diferente dos virus que causam as outras hepatites mais comuns, a A e a B.O virus da hepatite C é membro da familia Flaviviridae, a mesma  da dengue e da febre amarela . Há varios genótipos (variações) desse virus sendo 6 as mais importantes(1 a 6), sendo estes são subdividos em mais de 50 subtipos (1a,1b,2a,etc).Os genótipos chegam a apresentar  30 a 50 % de diferença no seu RNA.Essa divisão é importante pois cada subtipo tem caracteristicas proprias de agressividade e resposta ao tratamento. Genótipos 1 a 4 tem mais resistência ao tratamento com interferon que os 2 e 3 . Variações podem "enganar" o sistema imunológico e dificultar a produção de vacina,entre outras complicações.
   A quantidade de vírus C no sangue infectado é menor  que os de virus B na hepatite B. Suspeita-se que,como na hepatite B, o principal mecanismo de destruição de celulas do figado seja pelo sistema imunológico, do proprio hospedeiro,mas é provavel que haja destruição pelo vírus
   Na biópsia hepática de portadores de hepatite C, observa-se esteatose micro ou macrovesicular(50%), dano em ductos biliares(60%) e agregados ou filículos linfóides (60%)  

Transmissão do virus

   A Hepatite C é trasmitida atravez do contagio do sangue contaminado, apesar de alguns relatos recentes mostrando a presença do virus em outras secreções (leite materno,urina,saliva,e esperma), mas a quantidade de virus presente nos citados parece ser muito pequena para causar infecções e até hoje não surgiram dados de transmissão por essas vias.O virus da hepatite chega a sobreviver de 16 horas a 4 dias em ambientes externos.Os grupos de maior risco para contrair a doença são principalmente os receptores de sangue,usuarios de drogas endovenosas,pacientes de homodiálize(cerca de 15-45% são infectados no EUA) e trabalhadores na área de saúde
  Com o surgimento de exames  para a detecção da hepatite a incendencia anual vem caindo.Isso é mais  significativo em receptores de transfusão pois essa era a principal via de transmissão e hoje o risco de adquirir Hepatite C por transfusão sanguinea está entre 0,01% e 0,001%.Atualmente o maior risco dos usuários de drogas que nos Estadus Unidos a 72-90% de prevalencia da infecção.Estima-se que apos 6 a 12 meses de uso de drogas endovenosas,80% dos individuos estão infectados.
   Em trabalhadores de saude que se acidentam com agulhas com agulhas contaminadas,ha risco de transmissão mas é menor que 4% (menos que a hepatite B,mais que o HIV) e isso é responsável por menos de 1% dos casos de infecções
  A transmição vertical(de mãe para filho) ocorre em 0 a 35,5% dos partos de mães infectadas,dependendo principalmente  da quantidade de virus circulante no momento do parto e coinfecção com HIV.A taxa de transmição vertical em geral está entre 4,3 a 5,0 %.Aparentemente ah risco maior no parto normal que na cesariana,e o aleitamento materno parece ser seguro,mas os estudos em ambos os casos são comflitantes.Pois não ah até o momento nenhuma técnica para reduzir os riscos de transmissão para o bebê durante o parto deve ser realizada sorologia(anti-VHC) do bebê apenas após 18 meses do bebê,pois antes disso os anticorpos presentes no bebê podem ser provenientes do sangue da mãe, passados para o feto através da placenta.Também ah a possibilidade de coletar sangue para a pesqusa do RNA VHC(pelo PCR) na primeira e na segunda consulta de puericultura(com o pediatra,entre um a dois meses de vida)
                                                                              
                                            
   O leite materno não é contra-indicado para as mães portadoras do VHC
   A Transmição Sexual  é algo bem debatido.É verdadeiro que  a Hepatite C é muito menos transmitida do que a Hepatite B.Em parceiros fixos de pessoas contaminadasa prevalencia de infecção é de  apenas 0,4 a 3%,sendo que nesse muitas vezes encontramos fatores de risco que pode ser a causa da infecção.Por outro lado,entre pessoas sem nenhum outro fator de risco, encontramos 2 a 12% de sexualmente promissuo.
  Atualmente, não há dados que indiquem a necessidade  de uso de preservativo em parceiros estaveis pela Hepatite C
                                                               
Modos de Transmissão da hepatite C
Comuns
Incomuns
Uso de drogas endovenosas
Cocaína intranasal
Transfusões de sangue antes de '92
Piercing
Acidentes com agulhas
Tatuagens
Transmissão perinatal
Transmissão sexual

   Os fatores de risco menores são o uso de cocaina intranasal, piercing e tatuagens.Mesmo excluidas todos os fatores de risco anteriores, a transmissão esporadica,ou sem modo conhecido, é responsavel por  pelo menos 12% dos casos
     Naturalmente, como tem os mesmos modos  de trasmição os portadores de Hepatite C tem também o risco de contrair outras doenças ,particularmente a Hepatite B a AIDS e outras DSTs, devendo realizar exame de sangue para diagnóstico.De particular interesse a co-infecção hepatite B e C e Hepatite C e HIV, com evolução muito piores e tratamento mais dificil
    
                                                                           
Fatores de risco para o contágio da hepatite C
Transfusão de sangue ou derivados
Uso de drogas ilícitas
Hemodiálise
Exposição a sangue por profissionais da área de saúde
Receptores de órgãos ou tecidos transplantados
Recém-nascidos de mães portadoras
Contatos sexuais promíscuos ou com parceiros sabidamente portadores
Exposição a sangue por material cortante ou perfurante de uso coletivo sem esterilização adequada:
  • procedimentos médico-odontológicos
  • tatuagem
  • acupuntura
  • manicure / pedicure
  • body piercing
  • contato social ou familiar com material de uso pessoal ( barbeadores, escovas dentais, etc )
  • "medicina" folclórica ( inclui "cirurgias espíritas" )
  • barbeiros e cabelereiros

sexta-feira, 8 de abril de 2011

Sintomas da Hepatite C

 Diferentemente das hepatites A e B, a maioria das pessoas que adquirem a hepatite C desenvolvem doença crônica e lenta, sendo que a maioria (90%) é assintomática ou apresenta sintomas muito inespecíficos, como letargia, dores musculares e articulares, cansaço, náuseas ou desconforto no hipocôndrio direito. Assim, o diagnóstico só costuma ser realizado através de exames para doação de sangue, exames de rotina ou quando sintomas de doença hepática surgem, já na fase avançada de cirrose.
   Além dos sintomas relacionados diretamente à hepatite, o vírus pode desencadear o aparecimento de outras doenças através de estimulação do sistema imunológico:
Manifestações extra-hepáticas do HCV
Crioglobulinemia mista
Tireoidite autoimune
Porfiria cutânea tarda
Líquen plano
Glomerulonefrite membranoproliferativa
Sialoadenite
Poliarterite nodosa
Úlcera de córnea
Linfoma de células B
Síndrome de sicca
Fibrose pulmonar idiopática
Fenômeno de Reynaud

Introdução do Virus da Hepatite C

          Hepatite C é a inflamação do fígado causada pela infecção pelo vírus da hepatite C (VHC ou HCV), transmitido através do contato com sangue contaminado. Essa inflamação ocorre na maioria das pessoas que adquire o vírus e, dependendo da intensidade e tempo de duração, pode levar a cirrose e câncer do fígado. Ao contrário dos demais vírus que causam hepatite, o vírus da hepatite C não gera uma resposta imunológica adequada no organismo, o que faz com que a infecção aguda seja menos sintomática, mas também com que a maioria das pessoas que se infectam se tornem portadores de hepatite crônica, com suas consequências a longo prazo.
            Estima-se que cerca de 3% da população mundial, 170 milhões de pessoas, sejam portadores de hepatite C crônica. É atualmente a principal causa de transplante hepático em países desenvolvidos e responsável por 60% das hepatopatias crônicas. No Brasil, em doadores de sangue, a incidência da hepatite C é de cerca de 1,2%, com diferenças regionais, como mostra a tabela abaixo:
Prevalência da hepatite C
Estados Unidos
1,4%
França
3,0%
Egito / África do Sul
30,0%
Canadá / Norte da Europa
0,3%
Brasil
1,2-2,0%
   - Norte
2,1%
   - Nordeste
1%
   - Centro-Oeste
1,2%
   - Sudeste
1,4%
   - Sul
0,7%
                        
  Apesar do altíssimo número de contaminados, alguns fatores de risco são considerados mais importantes e todas as pessoas com eles devem ser devem ser testadas, pelo alto risco da doença:
Fatores de maior risco para hepatite C
Usuários de drogas endovenosas
risco 80%
Receptores de fatores de coagulação antes de 1987
risco 90%
Receptores de transfusão sangüínea ou transplante de órgãos antes de 1992
risco 6%
Hemodiálise
risco 20%
Filhos de mães positivas
risco 5%
Parceiros de portadores do HIV
-
Crianças com 12 meses de idade com mãe portadora do HCV
-
Profissionais da área da saúde vítimas de acidente com sangue contaminado
-
               
Apesar dos esforços em conter a epidemia atual, especialmente com a realização de exames específicos em sangue doado, a hepatite C é uma epidemia crescente. Estima-se que a prevalência (número total de casos) só atinja o seu pico em 2040 e, à medida que o tempo de infecção aumenta, que a proporção de novos pacientes não tratados com cirrose dobre até 2020. Assim, medidas adicionais de prevenção e tratamento precisam ser tomadas antes disso, ou nas próximas décadas a epidemia de hepatite C  atingirá complicações na saúde pública a níveis insustentáveis.